O mercado de construção civil está em franca ascenção graças, principalmente, ao bairro onde moro e ao prédio onde habito. Pedreiros, encanadores, pintores, empreiteiros e ajudantes em geral devem estar enriquecendo rápidamente e terão um Natal animado.
É impressionante o número de reformas por aqui. O povo nunca está satisfeito com o imóvel que comprou ou alugou, mesmo que tenha sido recém reformado ou construído.
Derrubam tudo: paredes, banheiros, azulejos, cozinhas, áreas de serviço, muros; fecham janelas em uma parede e abrem em outra, destroem pisos, criam novas portas, botam telhados abaixo e, suprasumo da modernidade capenga, alguns forram as telhas com uma manta prateada que deixa as casas com cara de OVNI.
É o paraíso dos quebra-quebra e das demolições. O serviço em geral começa logo cedo, mas existem excessões.
Em uma obra vizinha o pedreiro aparentemente exerce outra atividade no horário comercial, entre as 8 e as 18 horas porque, aproveitando o horário de verão, ele chega diariamente as 18:30h e começa a demolir um muro ou um pedaço de parede usando a ferramenta da moda: a britadeira, enquanto o sol brilha feliz. Tenho que reconhecer o esforço honesto do rapaz nessa dupla jornada, mas confesso que sinto ganas de descer e socar aquele rostinho provavelmente coberto de pó de cimento.
No apartamento de cima, em reforma atualmente, derrubaram quase todas as paredes, tiraram portas, arrancaram todo o piso, destruíram os banheiros, a cozinha e a área de serviço, sempre usando, preferencialmente, outra ferramenta muito em voga: a marreta.
Se vocês pensarem que, exceto nas paredes dos quartos e sala, todas essas áreas são cobertas de azulejos e pisos cerâmicos colados com um material super resistente, elaborado provavelmente no inferno e com o aval do demo, podem imaginar o nível de barulho produzido das 9 as 16:30h com pausa de 30 minutos para almoço.
As pancadas são tão fortes que derrubam objetos da minha estante; os animais que dividem o espaço comigo fogem assustados, procurando esconderijos; eu estou á beira de uma crise de nervos; os outros vizinhos também já cansaram de reclamar, então apenas esperam resignados que a obra termine.
Adianta reclamar? Claro que não! Eles “precisam” quebrar, destruir, recontruir e se eu não estou satisfeita, fazer o que? Me mudar até que a obra termine? Se os futuros vizinhos quiserem podem me oferecer hospedagem em uma casa de campo com todas as despesas pagas que aceitarei com o maior prazer.
Se o proprietário quer transformar seu apartamento recém adquirido em loft ou juntar espaços, que se ponham as paredes abaixo sem a menor cerimônia; “o engenheiro garantiu que é seguro”, esses novos vãos enormes “não vão comprometer a estrutura do prédio”ou “a senhora pode ficar tranquila”. As frases estão ali, na ponta da língua daqueles a quem pedimos explicações. Acredito que naquele prédio que ruiu no Rio de Janeiro durante uma reforma também não havia “motivos para preocupação”. Não que eu queira ser fatalista, mas seguro morreu de velho.
Realmente me falta inteligência para entender o porque de tanto descontentamento com a planta original dos prédios. Desejando um apartamento ou casa com uma cara totalmente diferente da que existe, porque compraram essa? Mudar uma cor de parede, um acabamento de banheiro, fazer uma suíte para maior conforto, uma coisinha aqui e ali para satisfazer o gosto e a necessidade pessoal é compreensível, mas construir um imóvel completamente novo? Isso acontece em muitos prédios e duvido que exista morador feliz com essa situação.
Tornei-me “a chata” simplesmente porque não suporto mais horas e horas diárias de barulho ensurdecedor.
Que os novos vizinhos que nem conheço me perdoem, mas eu não sinto amor por eles nesse momento. Detesto também todo mundo que acha essas obras “normal”. Fiquem sabendo que nem ligo de ser a “reclamona” e que meu humor está vários níveis abaixo de zero; não é preciso desenhar um gráfico para explicar os motivos.
Talvez no futuro, se vier a conhece-los melhor e descobrir que eles são pessoas muito simpáticas, possa gostar deles.
Mas por enquanto, tomara que o Papai Noel não traga nenhum presente para eles; que chova se eles forem passar o Reveillon na praia; que faça o maior calor se forem atrás de neve, e que no próximo ano, quando eles já estiverem instalados aqui no prédio, o vizinho do andar acima do deles faça uma reforma monumental, digna de figurar no Guinness.
No mais, muita paz, saúde, amor e felicidade.