novembro 2011


Está mais que provado que, no espaço que separa o público e o privado, algumas pessoas pensam que se situa uma latrina e que esse espaço é o seu ouvido. É um tal de gente que fala em público como se estivesse sozinha no subsolo de uma mina com 3.000 metros de profundidade que eu não aguento mais.

Exemplo? Precisei ir almoçar em um restaurante. Escolhi um bem tranquilo, com comida de boa qualidade e quase vazio. Ênfase no “quase”! Na cena, eu, várias mesas vazias e, do outro lado da sala uma mesa com 2 senhores e uma sujeita que falava alto e mais do que a boca.

Não bastasse a verborragia, a conversa, ou melhor, o monólogo, reverberava naquele vazio de uma maneira muito especial. Os assuntos, variações de um mesmo tema, enchiam o espaço com aquela voz arrogante, cheia de si, delirantemente propagandeando seus serviços de assessoria de imprensa ou coisa que o valha, alardeando que era a melhor assessoria para Petshop . Como os dois homens que a companhavam não tinham cara de Cesar Millan nem conseguiam interromper aquela torrente de chatices, precisei pedir para o garçom colocar a comida em embalagem para viagem e sair antes que minha força de vontade sucumbisse ao desejo de gritar CALA A BOCA PÔ!!, coisa que uma dama jamais deve fazer em público.

Nunca entendi porque a moça no ônibus, com celular grudado na orelha, conta detalhes da cirurgia de sua mãe, de seu relacionamento, da briga no trabalho, tudo em alto e bom som  de modo que todos os passageiros escutem.

Se estou em um espaço público, não me sinto obrigada a escutar que fulana é uma vaca que dá pra todo mundo e que fica dando em cima do namorado da sicrana que saiu com o professor da academia porque a namorada dele é uma bruxa que não se enxerga e não vê que é uma baranga e ele é um gato pena que seja gay porque você sabe que todo carinha assim bombado é viado e fica fazendo musculação só prá se exibir igual aquela idiota do 18º andar lá do prédio que só falta dar pros porteiros e quem sabe se não dá porque tem cara de garota de programa e depois fica fazendo cara de santa e…blá, blá,blá.

Para onde será que foram a discrição, o assunto particular, o bom senso, a educação? Devem ter morrido e estão enterrados junto com o Privado .

Programas de televisão, livros, reportagens, comentários nas mídias sociais, todos anunciando que hoje, 11/11/11, o mundo vai acabar. O horário deve ser 11:11:11 h para ficar mais bonito, esotérico e ameaçador.

Em alguns estados brasileiros com horário de verão, o final do mundo se antecipou um pouquinho mas não importa já que, aparentemente, ninguém mais leva à sério essas ameaças que de tempos em tempos aparecem na mídia, fazem um estardalhaço momentâneo e no dia seguinte estão esquecidas.

Lembro de “profetas” no meio da rua anunciando :”Arrependei-vos! O final dos tempos se aproxima!!!” enquanto aproveitavam para vender uma revistinha ou livro de algum tipo de crença. Não os vejo mais. Será que o mundo está mais cético ou os meios de comunicação é que mudaram?

Pessoalmente achava aquele cara de terno gritando na calçada muito mais ameaçador do que uns sujeitos que de vez em quando apareciam na televisão todos engomadinhos, ensaiados e óbvios, mas criança é assim mesmo, ingênua que só! Hoje, os homens na televisão me assustam muito mais.

Lembro também de malucos que em nome de alguma crença espúria faziam supostas “lavagens cerebral” em seus seguidores e depois cometiam assassinatos em massa, envenenando ou abatendo a tiros os membros de suas seitas. Cada vez que uma notícia dessas aparecia, tenho uma parente mais exaltada que dizia : “é o fim dos tempos!” e mesmo não sendo cética pensava com meus botões: “de novo?!”

Hoje parece que lavagem cerebral saiu de moda e agora, no alto da lista do Apocalipse, podemos encontrar as Profecias Maias com dezenas de programas na televisão sobre o assunto. O curioso é que nessas profecias o mundo vai acabar em dezembro de 2.012, mas há controvérsias e os estudiosos ainda não chegaram à um consenso, só não podem demorar muito porque 2.012 está logo aí e preciso me preparar... Vez ou outra alguém lembra de Nostradamus, mas esse está meio desacreditado.

Como disse, não sou cética mas acho que todas essas previsões apocalípticas são ótimas fontes para a produção de filmes, séries de TV e livros que arrecadam montes de dinheiro.  Também servem de inspiração para frases engraçadas ou mal humoradas de quem não curte brincadeiras com 140 caracteres.

Comecei à escrever este post antes da hora do fim do mundo e procurei terminar logo. Vai que…

Lendo as notícias sobre a ocupação da reitoria da USP feita pelo movimento que se iniciou quando um grupo de rapazes foram pegos pela Polícia Militar fumando maconha no campus,  tenho uma singela sugestão para vocês, manifestantes que estudam nessa universidade pública mantida com o dinheiro de impostos.

Que tal ir para casa, chamar sua mãe para uma conversa (porque com seu pai às vezes não dá pra falar), e dizer:

“Aí mãe, na boa, eu gosto de fumar maconha e vou fazer isso aqui na nossa sala, OK?!. Se o cheiro incomodar muito posso abrir as janelas ou ir no banheiro, falô?!”.

Ou se você já se acha adulto suficiente para não ter mais que dar satisfações, simplesmente acenda seu cigarro de maconha na frente de todos, logo após o almoço na casa de sua avó. Essa seria uma maneira honesta de usufruir e compartilhar o prazer que a droga lhe propicia: na sua casa e com a sua família porque se maconha é uma coisa inócua podemos e devemos acender “unzinho” perto daqueles que amamos não é?

Outro detalhe: esse lance de aparecer nas fotos dos jornais mascarado ou puxando camiseta sobre o rosto parece  coisa de bandido que não quer ser reconhecido. Gente que está defendendo algo em que acredita não precisa esconder o rosto. Estão preocupados com o que? Estão com medo de serem reconhecidos? E se o forem, qual o problema, afinal estão lutando por algo em que acreditam e deveriam se orgulhar disso, não é mesmo?

E o cartaz com o desenho de um pênis falo gigantesco está reinvindicando o que mesmo? O direito á masturbação pública? O “fora rede globo” é quase mais velho do que eu e nem vale a pena comentar.

Me pergunto onde esses manifestantes estão com a cabeça. Como é possivel querer tirar o policiamento de um campus onde acontecem assaltos, estupros e até assassinato? A ausência de policiamento é sinal de liberdade? Será que querem tirar a PM e obrigar a USP à contratar segurança particular aumentando ainda mais os custos desse universidade?

Se a instituição pública e gratuita – onde você ingressou depois de frequentar colégios particulares e/ou cursinho pré vestibular caríssimos – está tolhendo sua liberdade, abandone-a, volte para o ensino pago e tente fumar maconha no campus.

Coisas muito mais importantes estão acontecendo diariamente nessa cidade e nesse país e não vejo essa moçada se manifestando ou tomando posição. Está na hora crescer…

Um grupo de mulheres da Ucrânia descobriu um novo velho modo de chamar a atenção para suas causas: mostrar o corpo, ficar pelada em público. São causas justas, mas em minha modesta opinião, as manifestantes só aparecem na mídia global por mostrarem os seios pois do contrário, quem iria se importar com protestos que acontecem do outro lado do mundo e que expõem a conivência do governo local com o turismo sexual, entre outras coisas?

Quem se importa com os protestos das mulheres brasileiras contra o turismo sexual aqui no nosso país? Quem se importa com o fato de sermos um dos destinos mais procurados por estrangeiros de classe média na faixa entre 20 e 40 anos, muitos em busca de sexo com meninas de até 10 anos? Uma das muitas reportagens publicadas à respeito mostra que o turismo sexual brasileiro já não se concentra mais nas orla marítima e que está espalhado por todo o país, mas quem se importa? Teremos que tirar a roupa e sair em passeata pela Avenida Paulista?

Quem se importa com a situação de abandono vivida por nossas crianças recem nascidas que são cotidianamente largadas em caixas de papelão, cestos de lixo, sacolas plásticas ou becos escuros? Quem se importa com as crianças e adolescentes que estão nas ruas cometendo pequenos e grandes crimes? Teremos que mostrar nossos seios e sair gritando pela Avenida Presidente Vargas, lá no Rio de Janeiro?

Quem se importa com os idosos no Brasil, empilhados em asilos sem a menor condição de higiene e saúde? Para chamar a atenção e causar impacto, quem sabe teremos que mostrar seios jovens e velhos em praça pública? Será que se ficarmos nuas na Praça dos Três Poderes iremos chamar a atenção?

Quem se importa com a  mulher que percorre dois ou três hospitais públicos e não consegue vaga para se internar acabando por dar a luz na rua ou em uma viatura da PM e que dá graças à Deus pelo bebê estar vivo?

Admiro a mulher que não se importa em se expor ou  ir presa para denunciar os horrores e injustiças que são ignorados pelas autoridades e pela sociedade como um todo.

Não pretendo ser panfletária, mas acredito que está na hora de ficarmos todas de peito de fora aqui no Brasil.