setembro 2010


Vou direto ao assunto: tenho uma dificuldade gigantesca em memorizar nomes de pessoas, de ruas, de filmes e coisas do gênero. Posso explicar direitinho quem a pessoa é, onde ela trabalha, a cara que ela tem, roupas que usa, mas o nome nem pensar.

Quando quero lembrar o nome de algum ator ou atriz sou capaz de lembrar os filmes, os enredos, os personagens. Então fica uma coisa assim: aquele ator, bandido- médico-surfista-fantasma, que já morreu… Se minha filha estiver por perto, ela dirá: o Patrick  Swayze, né mãe?

Antes que alguém me chame de esclerosada, saibam que esse é um problema que acompanha minha família pelo lado paterno há gerações. Minha avó, tias, tios e meu próprio pai, sempre misturaram os nomes da criançada da família. Para a molecada era normal atender pelo nome de outro quando a vó chamava; é uma coisa genética.

Com essa memória de jaca escolhi a profissão de secretária, quando carregar uma agenda de papel era coisa chique e aproveitando a moda sempre anotava tudo; depois marcava com canetinhas coloridas porque não podia esquecer nada.

Minha formação acadêmica é, vejam que adequado, História. A sorte foi que quando comecei a cursar a faculdade o que valia era entender o “contexto”, a “tessitura”,  “o comportamento social”, o “embricamento”, e não decorar datas e nomes.  Entender as fofocas e os babados históricos “dentro de um contexto social”  permitiu que eu me saisse razoavelmente bem.

Hoje tudo mudou. Agenda agora é o netbook, o celular, o smartfone, o ipod. As redes sociais inundam minha timeline com arrobas que preciso reconhecer. O Facebook oferece fazendas, cafés, cidades de fronteira e outros jogos on line.

Imaginem quantas vezes não enviei uma vaca de presente para aquela senhora americana que é vegetariana convicta e tem um café, não uma fazenda.

Não faço idéia de como superar esse problema, nem de como marcar com canetinha colorida minhas anotações no smartfone. No netbook já consigo…

Tentei o método divulgado por um político que segundo as más línguas roubava mas fazia, não tinha dinheiro no exterior, é casado com uma senhora que usa um litro de laquê nos cabelos e elegeu um prefeito em São Paulo. Esse método ensina a relacionar as pessoas à alguma coisa para depois lembrar o nome delas. Como podem perceber, lembro do político, das fofocas e do método, mas esqueci o nome do sujeito.

Estou contando isso tudo só para me desculpar antecipadamente com você, amigo ou amiga de rede social, cursos em geral, antigos empregos, vizinhos, namorados, etc.. Nunca pensem que o fato de não lembrar de seus nomes seja pouco caso ou esclerose. Lembre-se que é genético!

Meu sorrisinho já mostrava a praga que eu iria me tornar

Me criei entre meninos e  meus amigos eram os amigos do meu irmão mais novo; era com eles que eu brincava.

Num belo dia estávamos brincando de guerra em nosso imenso quintal. O Forte que protegia meus soldados era uma pilha de tijolos e a tribo de índios de meu irmão se esgueirava atrás das moitas de azaléias preparando o ataque. A batalha era presenciada à distância pelo cachorro, pelo gato e pelas galinhas.

Os soldados estavam em desvantagem. Porque eu era a única menina do bando e não podia escolher muito, do meu lado ficavam aqueles meninos novinhos que ninguém queria no time e do lado dos índios os meninos maiores e mais espertos.

Era certo que perderíamos o Forte e seríamos escalpelados tal qual se insinuava nos filmes das matinês. Na verdade a gente nem sabia direito o que significava “escalpelar”. Antigamente as cenas sangrentas eram deixadas por conta de nossa imaginação e na tela só se via aquele índio mal encarado erguendo a mão para exibir um treco que parecia um rabo de guaxinim. Isso significava que “escalpo” podia ser um corte de cabelos ruim.

Prevendo a derrota tive a brilhante idéia de usar os canhões do Forte e mandei meus soldados nanicos juntarem pedras e atirar nos selvagens protegidos pelas moitas. Nenhuma bala conseguia acertar o alvo até que eu, Comandante do Forte, peguei um  pedaço de tijolo e joguei para cima na direção dos inimigos.

O projétil fez uma curva e caiu direto no território índio. Quando já íamos comemorar, ouvi o berro! Meu irmão saía de sua trincheira com o rosto todo ensangüentado, os olhos verdes cheios de espanto e raiva por causa da tijolada na testa.

Abandonei o Forte e os soldados e corri para socorrer o pobre índio. Fomos às pressas para o tanque lavar o ferimento com sabão como minha mãe havia nos ensinado. Aproveitei o pano de pratos que estava no varal e fiz uma bandagem que o deixou com cara de árabe no deserto (tipo o das matinês é óbvio).

Acho que foi a partir daí que virei pacifista e jurei nunca mais usar uma arma, juramento cumprido até hoje e que se renova cada vez que olho a cicatriz que ainda enfeita a testa de meu irmão 50 anos depois.

E finalmente alguém do Santos tem a coragem de dizer que no caso Neymar é tudo uma questão de valores, simplesmente de dinheiro. Um lance de “produto” e “valor agregado”.

A jornalista da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo, publicou em sua coluna desta quinta feira (sem dar o nome da fonte), que o que irritou os dirigentes do clube foi a insensibilidade do técnico Dorival Jr. na questão do “prejuízo financeiro” que as punições dadas ao jogador trariam ao clube. O glorioso Peixe leva 30% de tudo que é gerado com a venda da imagem do “garoto”: contratos publicitários, licenciamento de produtos, etc…é muita escama pra uma sardinha!

Segundo essa fonte o Santos ficaria prejudicado com a “humilhação” do jogador. Na página de esportes do mesmo jornal, na coluna Painel FC, está a afirmação de que os interessados em patrocinar o clube estão esperando para ver até onde vai essa situação para depois decidirem onde investir o próprio dinheiro.

Eu, que até curtia a propaganda da Panasonic, agora quando vejo o jogador dando piscadinha e anunciando máquina fotográfica e filmadora sinto certo desconforto e não devo ser a única. Para mim e para o público consumidor em geral que vê futebol como esporte, o que fica é a imagem de um jovem abusado e cheio de “poder” no mal sentido. Se não for resolvido logo ou se esse episódio voltar a acontecer, Neymar corre o risco de ficar com a marca de “mimadinho” e de perder o respeito que conseguiu às custas de seu talento inegável.

Para meros mortais o futebol é jogo de equipe e quando um dos participantes se acha acima dos demais a coisa complica. Entendo que Neymar ainda é bastante jovem; aos 18 anos ninguém é super maduro e ele precisa de suporte como qualquer outro com essa idade. Cabe aos que administram sua carreira ajuda-lo a carregar o fardo de ser ídolo de torcida, exemplo de milhares de jovens e detentor de salário na casa dos milhões e por essas e outras, alvo preferencial da imprensa especializada. Se fosse um jogador menos famoso que desse esse xilique em campo é provável que tudo passasse despercebido.

Cabe aos que comandam o futebol, dirigentes e técnicos, trazer de volta o verdadeiro esporte. Eu gostaria que   essa lenga lenga esmagadora de dinheiro e patrocínio que faz o jogador virar mercadoria vendida à quem pagar mais tivesse um fim, mas isso é sonho. A realidade é que ali no campo são onze contra onze e estrelismo, seja de quem for,  só atrapalha.

No mais, o povo quer é resultado mano.

Em cavalo dado não se olham os dentes e de Amostra Grátis não se reclama, certo? E-RRA-DO!! diz meu “Guia de Boas Maneiras para Moças de Fino Trato”.

Acho que o Guia está correto pelo menos na questão de amostra grátis e conto meus motivos:

Em evento recente ganhei amostras de shampoo e condicionador embalados aos pares naquele sachet de alumínio (ou titânio, sei lá!). Hoje entrei debaixo do chuveiro, molhei a cabeça e fui toda animadinha usar meu mimo e quem diz que conseguia abrir a tal embalagem? Nem mesmo aquele cortinho inútil que costumam apresentar na lateral estava presente.

Mordi, puxei, xinguei, pisei em cima, joguei na parede e nada. Me dando por vencida, mas sem querer desistir,  saí do chuveiro e fui pingando água pela casa inteira em busca de uma tesoura enquanto amaldiçoava aquela embalagem mais hermética do que qualquer tratado de Hermes Trismegisto.

Então, pessoal de marketing e desenvolvedores de embalagens em geral, repitam comigo: “a amostra é para ser usada…a amostra é para ser usada…”. Usar um brinde sem ter problemas faz com que o presenteado goste do presente. Usar a amostra grátis é meio caminho andado para uma avaliação positiva. Então já sabem: “o brinde é para ser usado…a amostra é…”.

Entenderam? Do contrário caríssimos divulgadores e fazedores de embalagem tudo o que vou conseguir pensar é:  “Ô embalagem vagabunda! Será que não querem que ela seja aberta porque o produto é uma porcaria?”.

Para não ficarem pensando que sou mal agradecida e resmungona devo dizer que o shampoo e o condicionador para cabelos mistos ou oleosos cumprem o que prometem. Quando for usar o produto para cabelos tingidos irei munida de tesoura, OK?!

Tenho TV por assinatura e uma das coisas que mais me irrita é ver séries e filmes reprisados à exaustão. No caso de Sex and the City isso não acontece e acredito que já assisti a série inteira umas três vezes sem  nunca me cansar.

Simplesmente adoro as histórias dessas mulheres unidas por uma grande amizade; adoro o cotidiano da grande cidade; adoro os figurinos, os namorados, os conflitos, os casinhos, os ficantes, e vejam só, eu que não bebo nada alcoólico, acho lindo aqueles drinks!

Para mim o enredo de Sex and the City vai muito além de “festas”,  “procura marido” e “sexo casual”. O que vejo naquelas mulheres é o desejo de sucesso no trabalho e na vida pessoal; é o desejo de encontrar um relacionamento afetivo duradouro, de se manter bonita e atraente não importando a idade; é o desejo de superar os obstáculos oferecidos pelo cotidiano de qualquer mulher. E se isso tudo vem temperado com a presença do Mr. Big, melhor ainda.

Minha linda irmã no dia de seu batizado

Entre as histórias de minha infância, uma me faz dar graças à Deus pela invenção dos congelados.

Lembro bem do orgulho que senti vendo minha mãe grávida e da ansiedade para conhecer meu novo “irmão” ou “irmã”. Por isso, quando minha irmã nasceu e minha mãe veio para casa com ela,  senti que precisava fazer algo para retribuir a alegria de ter uma linda irmãzinha pra brincar comigo.

Era um tempo em que as parturientes comiam canja durante o período de “resguardo” que durava 40 dias e a canja precisava ser fresquinha, feita no dia. Tinha visto minha mãe,  tias, minha avó, as vizinhas, enfim, todas as mulheres adultas que eu conhecia, matarem galinhas num piscar de olhos,  com uma faca afiada ou com um pescoção e me achei super capacitada para o empreendimento.

Como criávamos galinhas no quintal, aproveitei um cochilo de minha avó que estava dando uma ajuda lá em casa e fui escolher, com olho clínico de uma expertise, a vítima para o sacrifício. Peguei a pobre coitada da galinha eleita, prendi entre os joelhos como já tinha visto as mulheres fazerem tantas vezes  e puxei com toda a fé de meus 10 anos, com as mãos nuas porque era pacifista e me recusava a usar armas, no caso a faca.

Mas a fé e a força de uma década completa de vida infelizmente não foram suficientes para dar cabo da tarefa. A bichinha escapou de minhas mãos magrelas e muito provavelmente com uma dor enorme no pescoço se pôs a cacarejar e correr em círculos pelo quintal, como só seria possível a uma vítima de tentativa de homicídio.

Eu apenas conseguia chorar de remorso e susto. A galinha sobreviveu meio torta por muito tempo; minha mãe não levou em conta minhas boas intenções e ganhei uma bronca enorme com direito à castigo enquanto meu irmão, insensível à todo aquele sofrimento e horror ria sem parar.

Desse dia em diante passei a achar uma invenção e tanto  aquelas galinhas de supermercado, congeladas, descoradas e mortinhas da silva graças aos serviços de outras pessoas. Sei que é um pouco tétrico, mas fazer o que se adoro canja?

Por razões profissionais sou obrigada a comer uma ou duas vezes por semana em um shopping chic aqui de São Paulo.  É isso ou a padoca mal encarada, então vou para o shopping. Faço o estilo bandejão e  tento ler um livro enquanto almoço mas é impossível: barulho, agitação, conversas, gente aos gritos no celular  e outras coisinhas do gênero impedem a concentração e acabo passando ao meu segundo esporte preferido: observar as pessoas e seus comportamentos. Vejam que é quase um estudo sociológico!

Ultimamente tenho notado dois tipos: um que andava meio sumido e outro que infelizmente nunca desapareceu.

O primeiro (que há tempos eu não via), é a Perua Descolada.
Trata-se de uma mulher entre 30 e 45 anos que tenta aparentar 18. Veste-se “na moda”, usa o cabelão comprido, loiro e esculpido na chapinha; se está de jeans estará também com tênis de grife num shape esportivo de boutique; se estiver de saia, será curta e se for vestido será decotado e sem mangas, ambos para exibir o bronzeado estilo “vivo na praia”.
Aparentemente nada diferencia essa “exibida”  de qualquer outra mas sabem o que faz essa perua se destacar? O chiclete!
É impressionante o estilo que essas mulheres adotam para mastigar a guloseima: boca aberta, aquela pelota colorida sendo jogada de um lado para outro e o barulho indefectível que acompanha esse comportamento pseudo-despojado. Gente, é de lascar! Será que elas pensam que “ser jovem”  é ser insuportável?

E falar em insuportável me leva ao segundo tipo de perua, aquele que nunca desapareceu: a mãe imperturbável. Sabem aquela, quase sempre na faixa dos 30, que vai ao shopping com os filhos e leva a babá junto, mesmo que “os filhos” se resuma a um? Então…é dessa que quero comentar.

Essa mamãe-perua pega a babá, o carrinho de bebê, e claro, filho ou filhos. Vai para a praça de alimentação ou para os restaurantes e solta os pimpolhos no mundo.

É um tal de criança chorando alto,  correndo entre as cadeiras, caindo entre as mesas, atropelando as pessoas, derrubando outras crianças ou gritando  enquanto a Zen-mãe olha para tudo com um ar de santidade e de ausência que só pode ser explicado pelo uso de medicação pesada. De vez em quando a pobre babá tenta segurar uma ou outra criança e é repelida à pontapés e gritos enquanto a mãe continua lá com cara de paisagem.

Por mim, o tipo Perua-descolada poderia continuar sumido e o tipo Perua-zen-mãe sumir de vez, mas acho que estou pedindo demais aos deuses e é melhor ver essas coisas do que ser cega, não é mesmo?