outubro 2010


Uma notícia chocante nos informa que estudantes da UNESP-Universidade Estadual Paulista organizou uma competição chamada “rodeio das gordas”  cujo objetivo era “agarrar suas colegas, de preferência as obesas, e tentar simular um rodeio – ficando o maior tempo possível sobre a presa”, conforme o jornal Folha de São Paulo

O estudante organizador do “evento” –  e criador de uma comunidade no Orkut com o mesmo tema –  se defende dizendo que era só uma brincadeira. Só pode ser cinismo e certeza de impunidade  que o leva  a ficar tão tranquilo. Aliás, o vice-reitor da Faculdade de Ciências e Letras do campus de Assis disse, segundo a reportagem acima,  que não quer ” estabelecer um processo inquisitório” usando frase de efeito para diminuir a importância do fato.

Quando Geyse Arruda foi chamada de puta pelos colegas de UNIBAN, também era apenas “brincadeirinha”?

Quando o estudante Edison Tsung Chi Hsuen morreu afogado durante um trote na piscina da USP em 1999, também era só uma “brincadeira” não é mesmo?

A facilidade com que os responsáveis se safam dessas situações, a impunidade, a leniência dos dirigentes das universidades e escolas em geral, a falta de atitude dos pais e dos educadores, são os tijolos que pavimentam essa estrada que só pode levar ao desastre.

A cantora Preta Gil ganhou um processo contra alguns  “humoristas” de um programa de TV que a chamaram de baleia encalhada, numa alusão à sua aparência física. Seu caso deveria ser usado como exemplo e incentivo para todos que sofrem humilhação e preconceito, seja na escola, no ambiente de trabalho, na rua, nos anúncios de produtos, etc. Os agredidos precisam tomar atitude e processar os agressores e aqueles que lhes dão guarida

Se a justiça começar à punir rapidamente e com rigor os “inocentes brincalhões”, o senso de humor dessas pessoas certamente mudará para melhor e todo mundo vai sair lucrando.

Há cinco anos comprei um pequeno salão de cabeleireiros instalado em um antigo sobrado  e toda manhã, quando chegava ao trabalho, encontrava uma trilha de florzinhas semi-devoradas e espalhadas pelo chão. Descobri que junto com escovas e secadores havia herdado um bando de ratos “jardineiros” que moravam no terreno baldio ao lado e vinham à noite comer nos vasos de flores.

Chamei um dedetizador “especialista” em ratos que cândidamente explicou:

– Esses ratos só morrem com veneno. Vamos espalhar e a senhora vai ver só! Não sobra um!

– Mas, mas…

– Fique tranquila. Eu espalho as iscas de veneno e eles levam pros ninhos. A senhora sabia que são os ratos velhos e doentes que fazem a busca da comida?  Se o rato come o veneno e morre eles já sabem que ali não podem se alimentar e mandam outro velhinho que já tá meio pra morrer procurar em outro lugar; são uns bichos espertos!  Esse veneno aqui não mata na hora, por isso eles levam lá pro ninho. Todos comem, os adultos, os filhotes… e daí o sangue deles seca e morrem lá na toca mesmo. Não fica cheiro nem nada, só os rato seco.

– Mas, mas…

Não consegui sequer pensar em ser responsável por aquela matança indiscriminada e gentilmente disse para o frio e eficiente profissional que iria pensar.

Precisava encontrar um jeito menos violento de lidar com aquilo. Liguei para um veterinário amigo e perguntei o que fazer para os ratos irem embora e a resposta foi: arrume um gato. Ele explicou que os gatos são os predadores naturais dos ratos e que só o cheiro deles já afastaria os visitantes indesejados; podia ser até um filhote que o efeito era o mesmo.

E foi assim que o Spray entrou para a família. Durante um ano eu o levava diariamente para “trabalhar” comigo e o trazia para casa à noite. O negócio de “só ameaçar” funcionou e os  ratos sumiram sem deixar rastros. Quando vendi minha parte na sociedade, recolhi as tijelas, a caminha, os brinquedos e fomos para casa.

O Spray tinha complexo de cão e me seguia por todo canto; como todo gato, sentava na frente do monitor do PC ou da TV quando achava que não estava recebendo atenção suficiente; miava desesperado lançando olhares para a torneira quando queria beber água corrente. Subia no sofá e deitava sobre minha barriga para assistirmos nossas séries favoritas; me olhava feio quando levava bronca porque comia a comida do cachorro.

No começo deste mês ele adoeceu e, apesar de todos os cuidados, na semana passada ele se foi.

Agora deve ter algum lugar no céu onde os ratos não pisam. E certamente não é porque os anjos resolveram usar veneno mas sim porque meu destemido amigo caçador está lá enfrentando e espantando os ratos folgados.

Os assuntos que dão título à este post estão em evidência. Vejamos:

1 – Há alguns anos que em vários países acontece durante o mês de outubro uma campanha chamada Outubro Rosa destinada a alertar, informar  e orientar mulheres de todas as idades com relação ao câncer de mama.  O símbolo do movimento apareceu em 1990, na cidade de Nova York, quando a Fundação Susan G. Komen for the Cure distribuiu um lacinho cor de rosa para os participantes da 1ª Corrida pela Cura. Daí para frente o movimento espalhou-se por outros países com eventos anuais destinados á chamar a atenção para o problema.

Aqui no Brasil, além da dificuldade de diagnóstico precoce devido à falta orientação para o auto-exame e da falta de equipamentos para mamografia nos hospitais públicos e postos de saúde, temos também grande dificuldade de tratamento porque faltam vagas na rede pública para o atendimento quimioterápico. Segundo a mastologista Maíra Caleffi, presidente da FEMAMA, leva-se em média 188 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento pela rede do SUS. Tendo em conta que à cada milímetro que o tumor aumenta diminui 1% da chance de cura, dá para imaginar o horror dessa situação no nosso país.

2 – Frequentemente o aborto vira tema de campanha política. Candidatos são contra ou à favor, dependendo de para onde sopram os ventos das pesquisas, sem nenhum aprofundamento da questão. Tudo o que interessa é agradar essa ou aquela corrente religiosa no afã de angariar votos. Pouco importa o número de mulheres que morrem ou sofrem sérias sequelas físicas e psicológicas devido aos abortos clandestinos ou não. Importa menos ainda as causas dessas gestações indesejáveis ou impossíveis de serem levadas à termo. O que interessa é manter escondido que, segundo pesquisas realizadas pela UnB junto com o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, uma em cada 7 mulheres brasileiras, com idade entre 18 e 39 anos, já abortou. O que torna isso um assunto de saúde pública e não de campanha política.

3 – Mensagens políticas ocupam a timeline no Twitter, no Facebook, nos vídeos do Youtube e na caixa de entrada de e-mail. Já recebi mensagem divulgando previsões de uma vidente (que por sinal está morta há uma década), antevendo cobras e lagartos supostamente sobre Dilma Roussef  num quase apocalipse tropical. Além disso recebo inúmeras piadas preconceituosas e  sem nenhuma graça sobre o presidente Lula, sobre Dilma e sobre o PT.  Sobre o candidato José Serra ainda não recebi nada; talvez o senso de humor dos petistas esteja em baixa ou eles não me detectaram ainda, felizmente. A potencial viralidade  da Internet vem sendo usada da maneira mais mal intencionada e manipuladora possível e fico aqui pensando se alguém ainda acredita nessas tolices e muda seu voto por isso.

Eu votarei no candidato que tiver coragem e decência para enfrentar as questões de saúde nesse país de maneira séria e planejada e pouco me importa à que partido ele pertença. No candidato que encontrar meios para construir e equipar hospitais públicos sem maracutaia de propinas; no que consiga soluções para contratar médicos e funcionários suficientes para atender a população com competência.

Votarei no candidato que encarar o desafio de colocar aulas de educação sexual em todas as escolas para dar ao jovem informações além das que ele obtém nos filmes, novelas, letras de funk e pagode, redes sociais, etc. Elegerei o candidato que entenda que esclarecer e educar vai além da questão religiosa e do falso puritanismo e que a vida depende do conhecimento.

Por isso tudo senhor José Serra e senhora Dilma Roussef, até o presente momento nenhum dos dois tem o meu voto nem o meu respeito já que não apresentaram um programa honesto e possível de ser implementado sobre essas questões, que atingem principalmente as classes menos favorecidas e por tabela as mais ou menos favorecidas também. As super favorecidas não ligam para isso, portanto não precisam se preocupar com elas.

Em minha opinião, nesta campanha não há programa de governo, apenas programa de televisão. Se estivéssemos no Twitter agora era o momento de dizer #ficadica ou #prontofalei; aqui no blog é hora de dizer tchau.

Desfruto do privilégio de poder ir à pé para o trabalho e todos os dias posso ser vista subindo as ladeiras do bairro e botando os bofes pra fora enquanto amaldiçoo as calçadas quebradas e cheias de calombos contruídos para facilitar o acesso aos estacionamentos. Jogo de cintura para contornar as mesinhas que bares e padarias descaradamente colocam sobre o que resta de plano nas tais calçadas também faz parte da minha rotina.

Outro dia, durante essa minha andança fui contemplada, à revelia, com a visão de pedaços variados de glúteos, mais ou menos cobertos por calcinhas  em tons esquisitos. Vi calcinhas no indefectível azul calcinha, rosa amassada, bege amarronzado, verde semáforo,  e uma de cor indefinida por conta do encardido.

Não, não me tornei lavadeira e nem vendedora de roupas íntimas. A fartura de bundas expostas exibindo partes daquele vão que separa uma metade da outra exposição foi por conta dessa moda medonha das cinturas excessivamente baixas. As moçoilas compram calças dois números menores do que deveriam usar e saem pela rua mostrando pneus abundantes, barrigas imensas e o que chamarei pudicamente de  “cofrinho”,  numa deselegância sem fim.

Para completar o quadro dão dois passos e uma puxadinha, porque a calça vai descendo e à cada movimento mostrando mais carnes e celulites. Fui me perguntando qual a razão desse gesto de recato já que se não quisessem mostrar a bunda os glúteos, poderiam comprar calças um ou dois centímetros mais alto nas cinturas, mas concluí que elas acham isso bonito.

Continuei meu caminho e pouco mais à frente encontro um discípulo de Neymar. Sabe aquela pessoa que vai ziguezagueando pela calçada, driblando todas as tentativas que você faz para passar á frente? Fintei para a direita, para a esquerda e nada! Já estava quase dando um carrinho no moço quando surgiu a oportunidade e passei por ele. Não pude evitar olhar assim meio de banda para ver o que distraía tanto o rapaz.

Ele ia feito barata tonta pela calçada porque lia um livro enquanto caminhava. Um livro com as páginas amareladas, com jeitão de antigo. Dei à ele o meu melhor sorriso, pedi desculpa pela ultrapassagem e continuei andando com o sorriso pregado na cara. Esse moço-leitor salvou meu dia.