Podem me chamar de chata, mas fico pasma com a atitude de certas pessoas.

Primeiro de dezembro é o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, data escolhida em 1987 pela Assembleia Mundial de Saúde com apoio da ONU. Se 22 anos depois ainda precisamos ser lembrados que devemos tolerância, solidariedade, compaixão e apoio às pessoas infectadas pelo HIV e que precisamos reforçar as ações de prevenção, alguma coisa não vai bem não é mesmo? Isso tudo já devia fazer parte do nosso cotidiano, mas lamentávelmente não é bem assim.

Acompanhei no Twitter as mensagens de hoje e, por incrível que pareça, muitas eram piadinhas sobre a doença. Se pensarmos que nessa rede social a maioria tem menos de, digamos, 35 anos e vivem em grandes centros urbanos, a coisa fica bem feia; jovens cosmopolitas supostamente deveriam ser mais bem informados…

Observando as estatísticas dá para entender que atualmente as maiores vítimas de novas contaminações são as mulheres:  se até 1986 havia 15 homens infectados para cada mulher, em 2003 os números mudam drasticamente:continuam os mesmos 15 homens, mas o número de mulheres vai para 10. A contaminação está aumentando entre mulheres na faixa etária de 13 a 19 anos, quer dizer, entre as muito jovens.

Qual o significado disso tudo? Uma das possíveis resposta é que as mulheres não estão levando essa questão á sério. Seja porque confiam no parceiro, seja porque eles se recusam a usar o preservativo e elas ficam com medo de ofender e perder o marido, o namorado, o amante, o caso, o rôlo, o ficante, etc; sentem vergonha de pedir e parecer “sabidas” demais; muitas acreditam que estão em uma relação monogâmica (e às vezes estão mesmo) mas esquecem que os sintomas podem demorar anos para aparecer e elas ou eles não sabem o que se esconde no passado.

Forçar, mesmo que indiretamente, a mulher a manter relações sexuais sem proteção é um ato da mais pura violência.

Falando nisso, 25 de novembro foi o Dia Internacional da Não-Violência Contra as Mulheres e que ninguém fique se iludindo pensando que as mulheres sofrem apenas violência física. Apesar desta  ainda estar muito presente,somos agredidas das mais diversas formas e de maneiras muitas vezes disfarçadas.

Espera-se que as mulheres cumpram o padrão estético das modelos photoshopadas e ridiculamente retocadas para atingir um certo ideal de “perfeição” inexistente e ao lado está  a foto de Juliana Paes que não me deixa mentir. Ser gorda nem pensar, envelhecer jamais…

Pagam-se salários 35% menores para as mulheres em cargos e serviços equivalentes; ainda existem profissões  consideradas “femininas”, como por exemplo, educação infanto/juvenil ou enfermagem. Ouvi relato sobre discriminação contra uma médica  que tentou vaga para fazer especialização em neurocirurgia; foi-lhe dito que esse era um trabalho para homens e sua admissão foi negada. Várias mulheres que estão trabalhando na área de informática denunciam que são olhadas com desconfiança e/ou consideradas lésbicas, porque onde já se viu mulher entender de computador?!

Aliás, chamar de lésbica a mulher que foge dos padrões “ternurinha-forno-e-fogão” é a coisa mais comum. Mulher que não quer casamento nem compromisso sério invariavelmente será chamada de puta em alguns círculos. Mulher que não quer ter filhos será olhada com estranheza… Enfim, a lista dessas violências disfarçadas é imensa!

E que não se culpe apenas os homens – o mundo está cheio de mães, irmãs, esposas, namoradas e amigas educando sucessivas gerações para darem continuidade à tudo isso. Feminismo tosco é muito chato, mas machismo às avessas é lamentável.