Olá Marisa!
Venho acompanhando a polêmica à respeito dos comerciais veiculados por sua loja e as pessoas estão discutindo se você está ou não vendendo um estereótipo feminino…

Muitas moças, antenadas nas questões femininas e/ou nos movimentos feministas, acham que sim. Dizem que essa história de “tudo vale a pena” para se encaixar no que nesses tempos é a imagem idealizada da mulher “bonita” é discutível e eu concordo com elas.

Confesso que já surtei algumas vezes e comi menos durante um dia ou dois para poder entrar em um vestido de festa, mas normalmente me preocupo em comer de maneira saudável não por estética, mas por saúde mesmo. Ás vezes escorrego, enfio o pé na jaca e como tudo errado, me enchendo de doces e chocolate, mas faço isso sem culpa e continuo feliz, só um pouco mais saltitante devido ao açúcar.

Quando conheci a Marisa eu era jovem e naturalmente magrinha. Iniciava a carreira profissional com um salário que não era lá essas coisas, mas encontrava na Marisa as roupas que precisava para me apresentar bem vestida, com preços que cabiam em meu orçamento minúsculo. Havia uma espécie de código sobre o que vestir no escritório e não se usava calças compridas, saias muito justas, blusas curtas, roupas transparentes, sandália rasteira com os dedos de fora, etc. Tínhamos que mostrar elegância usando saltos altos com a naturalidade de quem já nasceu com eles.

Hoje, décadas depois, já não sou jovem nem magrinha e as mulheres podem até adotar a moda “periguete” se quiserem e se o local de trabalho permitir.

Devido à essa longa amizade me sinto com liberdade para fazer uma crítica e oferecer uma sugestão.
A crítica é que, como a maioria quase absoluta dos varejistas de moda, a Lojas Marisa continua mostrando em suas propagandas modelos magérrimas, brancas, muito jovens,com longos cabelos lisos voando ao vento nas fotos. Nunca mostram uma mulher acima dos 35 anos, ou com cabelo curto, negra, baixinha…  mulheres reais iguais as que vemos no nosso local de trabalho, na rua, no shopping, na fila do cinema, na livraria, no supermercado, na faculdade, na porta do colégio, no banco, etc. Idealizar é bacana, mas sem exagerar e sem perder o foco, não é mesmo?

Tamanho especial

Na página que hoje está disponível no site, encontrei anúncio com 15 mulheres magrelas, 1 mais ou menos e 2 cheinhas. A moça que tem o corpo mais comum usa uma roupa que é informada como “tamanho especial: “Vestido com brilho Tamanho Especial” e estão se referindo aos tamanhos 48-50. Até copiei e colei a foto para mostrar o que estou dizendo. Vocês acreditam mesmo que essa moça tem um corpo que merece ser taxado de ” tamanho especial”? Porque os tamanhos encolheram? Essa moça da foto seria, há alguns anos, manequim 42 ou no máximo 44.

Por que hoje ela é “Especial”? Porque não se parece com um filé de borboleta? Ver a apologia da magreza extrema que leva muitas mulheres a desenvolver distúrbios alimentares, sendo feita por uma loja que à tanto tempo veste as brasileiras, é chato. Nós temos quadril, seios fartos e bunda grande… não somos retas como os ditadores da moda parecem querer. E nos gostamos assim, saudáveis e bem nutridas.

É muito triste ver você, Marisa querida, insinuando que tudo o que interessa à mulher é arrumar um homem, obviamente tendo que ser esquelética para realizar seu “sonho”!

É terrível que você ache que “tudo vale a pena” para entrar numa roupa. Ou ache que mulheres que gostam de pepino, alface, cenoura, etc. são infelizes..lembre-se da alimentação saudável…

A tentativa de ser engraçada funcionou tanto quanto derrubar caixão em velório. A gente ri, mas quando pensa um pouquinho vê que não é engraçado é que nosso riso ofende.

Sempre pensei que essas roupas com modelagens minúsculas só favorecem os fabricantes que gastam pouco tecido na confecção e vendem o produto à preço de jóia exclusiva. Quem mais lucra com isso? A consumidora certamente não.

Que tal você, querida Marisa, nos amar como somos, como nós próprias nos amamos?  Que tal respeitar o corpo daquelas que entram na loja, compram, pagam a conta e mantém “o lojinha” funcionando? Vamos trazer a moda para a nossa realidade fazendo roupas com tamanhos que não sejam infanto-juvenis? E vamos parar de chamar os manequins de G, GG, XG, XGG?

Estou pedindo muito? Penso que não, pois entre amigas podemos ser sinceras, podemos conversar, rir, criticar, incentivar, apoiar, dar palpite, explicar idéias, podemos ser nós mesmas, sem censura e sem bobagens.

Sem ofensas, sem firulas, sem melindres desnecessários. Conversa mesmo de mulher para mulher.